domingo, 15 de março de 2009

Cumbio, 17 anos, é nova estrela na web argentina


"Cumbio está aqui!", gritou uma jovem ao avistar Agustina Vivero nas escadas do shopping de Abasto num domingo recente. Correndo ao seu encontro, a garota abraçou Vivero, pegou uma câmera e, esticando o braço, tirou uma foto. Dentro de alguns minutos, dezenas de adolescentes se agruparam ao redor, clamando por alguns segundos com Vivero, uma celebridade da internet e da televisão com mechas cor-de-rosa no cabelo e um piercing no lábio inferior. Durante a hora seguinte, Vivero posou para fotos, muitas vezes colocando para fora a língua com piercing ou fazendo carinho em sua namorada, Marulina.

O último ano foi um turbilhão para Vivero, conhecida na Argentina simplesmente como "Cumbio", por causa de seu amor pela música cúmbia - uma fusão de pop latino, salsa e dance, popular entre os argentinos de classe baixa. Vivero saltou para a fama e riqueza inesperadas ao transformar sua fama como "flogger" mais popular do país em força de marketing, assinando contratos como modelo, promovendo casas noturnas e escrevendo um livro sobre sua vida. E ela só tem 17 anos.
"Quando as pessoas me vêem na rua, às vezes elas choram ou querem me abraçar ou me beijar", disse Vivero numa entrevista. "Ou elas me odeiam. É tudo muito surpreendente".
Ela se apresentou na campanha de uma fundação em prol da prevenção do HIV, e um cineasta está filmando um documentário sobre sua vida. Já existem um perfume Cumbio e rumores sobre um reality show estrelando Cumbio e seus amigos.
Sua popularidade inesperada também está redefinindo os estereótipos de jovens celebridades na Argentina. Vivero, que é lésbica assumida, descreve a si mesma e a outros floggers como "andrógina" por usar roupas unissex. Ela se sente bem não sendo magérrima, evitando dietas e gabando-se de seu amor por junk food e chocolate - uma mensagem diferente em um país onde as mulheres têm altas taxas de distúrbios alimentares. "Estamos quebrando muitas barreiras", diz.

Floggers tiram fotos de si mesmos e seus amigos e postam em blogs de foto. O Fotolog.com diz ter mais de 5,5 milhões de usuários na Argentina, um dos dois maiores mercados para o site, junto do Chile. Os usuários comentam nas fotos uns dos outros - quanto mais comentários, mais famoso é o flogger. O fotolog de Vivero está entre os sites mais visitados na Argentina, contabilizando 36 milhões de visitas no ano passado, segundo números calculados pelo fotolog, diz ela.
O caminho de Vivero para a fama começou no ano passado, quando ela convidou alguns amigos para a casa de sua família em San Cristobal, um bairro de trabalhadores, com apartamentos baixos e casas coloniais. Durante as visitas eles tiravam fotos de si mesmos e de sua marca registrada: cabelos grandes e cuidadosamente desgrenhados, camisetas brilhantes com decote em V e tênis.
Logo, eles já não cabiam na casa, e Vivero propôs que mudassem as reuniões para o shopping de Abasto. Na primeira semana cerca de cem jovens compareceram. Na quarta semana, o número já tinha subido para 2 mil.
Os donos do shopping passaram a barrar a entrada dos adolescentes no complexo; então, eles começaram a ficar nas escadas. Algumas rixas entre grupos de jovens reunidos do lado de fora atraíram a atenção da mídia local. Quando repórteres chegaram para checar as coisas, os floggers os dirigiram a Vivero, que explicou confiante o novo movimento.
Logo ela estava fazendo aparições regulares em programas de notícia e talk shows. "As pessoas não entendem o que é isso", disse Vivero. "Estão acostumadas com a fama vinda da televisão ou dos esportes, mas não da internet, onde as pessoas estão postando fotos, se unindo e se divertindo".
Os floggers não são "como hippies ou punks, que têm ideais de lutar para mudar o mundo", diz Maria Jose Hooft, que escreveu o livro Tribos Urbanas, sobre as subculturas da juventude argentina. "Os floggers não querem mudar o mundo. Eles querem sobreviver, e querem se divertir o máximo que puderem".

A loucura ao redor de Cumbio realmente decolou depois que Guillermo Tragent, presidente da Furia, uma empresa de marketing, descobriu Vivero e os floggers, em abril de 2008, enquanto procurava por caras novas para uma campanha da Nike. A empresa queria "pessoas reais das ruas", disse Tragent. "O poder da imagem, para eles, é muito forte", disse ele, destacando as festas "matinês" onde os floggers se reúnem e desfilam em uma passarela posando para as fotos uns dos outros. "A sensação que os floggers famosos estão vivendo hoje é a mesma que as estrelas de Hollywood têm no tapete vermelho".
A campanha da Nike ficou no ar por três meses, mostrando ao país inteiro a imagem de Vivero usando óculos escuros e um boné virado de lado. A campanha incluía um escorregador gigante em forma de tênis do lado de fora do Abasto, no qual os floggers podiam escorregar enquanto posavam para suas fotos.
A campanha da Nike levou a aparições promocionais. Agora, na maioria dos fins de semana, um agente leva Vivero pelo país para promover discos e ajudar patrocinadores a vender roupas de marca. Eles pagam pelos vôos e pela hospedagem em hotéis quatro estrelas para ela e uma pequena comitiva.
Só as aparições em casas noturnas podem render a ela US$ 1 mil por fim de semana, afirmaram duas pessoas ligadas a Vivero, que não quiseram discutir quanto ela ganha. Seu pai se recusa a deixá-la ajudar a família, mas insiste que ela pague suas próprias contas de celular e internet.
Em seu livro, Yo Cumbio, lançado em dezembro, ela escreve que no começo se sentia como Eva Duarte de Perón, a famosa primeira-dama argentina. Em uma reunião em Abasto ela olhou do degrau mais alto e jogou beijos para a multidão, como Perón costumava fazer de uma sacada na Casa Rosada, o palácio presidencial. Os pais de Vivero têm dado apoio. Sua mãe, dona-de-casa, é companhia constante.

Seu irmão, produtor de televisão, cuida de suas finanças e está envolvido na criação de um piloto para um programa de variedades. Seu pai, o encanador da vizinhança, afirma com orgulho que agora sua filha adolescente ganha mais do que ele. "Eu consigo ganhar 2 mil pesos em 15 dias, se tiver trabalho", diz Ruben Vivero. "Ela recebe 2,5 mil pesos para aparecer por 45 minutos em um evento".
Os pais de Vivero recebem em sua casa diversos amigos da filha, para visitas que às vezes duram semanas. O quarto dela, com um espaço no sótão de madeira onde fica o computador, tornou-se uma espécie de refúgio para seus amigos escaparem dos problemas em casa.
"Às vezes há 25 pessoas na casa dela", disse Andrea Yannino, cineasta que filmou um documentário sobre Vivero. "O que os floggers realmente querem de seus relacionamentos online é o oposto, ter o toque, o contato com o outro".
Vivero diz que muitos de seus amigos gays procuram sua casa para fugir do preconceito da família. Ela tomou emprestada uma câmera do irmão e começou a filmar os depoimentos dos amigos.
Ela diz que planeja estudar para se tornar uma jornalista de televisão. Por enquanto, está trabalhando em letras para uma banda no estilo do Aqua, grupo pop dinamarquês-norueguês conhecido pela música Barbie Girl, de 1997. "Vou me divertir enquanto durar", diz Vivero. "Quando acabar, bom, acabou. Ainda terei as fotos".
Fonte: The New York Times - Tradução: Amy Traduções

1 comentários:

Unknown disse...

Quando fui para o shopping Abasto me assegurei de que não haja floggers!
O mês passado estive em Buenos Aires e aluguei um dos apartamentos em Buenos Aires perto da Recoleta. O bairro é muito elegante e turístico.